Crédito Rural: Como Evitar Cláusulas Abusivas em Contratos com Bancos e Tradings

O crédito rural é um dos instrumentos mais importantes para viabilizar o custeio, investimento e comercialização da produção agropecuária. No entanto, muitos produtores firmam contratos com bancos ou empresas (tradings) sem o devido acompanhamento técnico e jurídico, o que pode levar à inclusão de cláusulas abusivas e desequilíbrio contratual.

Neste artigo, explicamos como identificar essas cláusulas, o que a legislação permite e como proteger-se juridicamente.

1. O que é o crédito rural?

O crédito rural é uma linha de financiamento voltada para atividades agropecuárias e está disciplinado principalmente pela Lei nº 4.829/1965. Ele pode ser concedido por instituições financeiras públicas ou privadas, cooperativas de crédito ou empresas privadas, como tradings.

As modalidades incluem:

  • Crédito de custeio;
  • Crédito de investimento;
  • Crédito de comercialização;
  • Crédito para industrialização.

2. Riscos de cláusulas abusivas

Cláusulas abusivas são disposições contratuais que colocam o produtor rural em desvantagem excessiva, ferindo os princípios da boa-fé, do equilíbrio contratual e da função social do contrato.

As cláusulas mais comuns que merecem atenção são:

  • Garantias desproporcionais, como hipoteca de toda a propriedade por valor inferior;
  • Penalidades excessivas em caso de atraso, incluindo juros compostos acima do permitido;
  • Limitações unilaterais de responsabilidade por parte da instituição credora;
  • Renúncia antecipada a direitos legais, como direito de defesa ou de revisão judicial;
  • Obrigações desnecessárias para liberação dos recursos (exigência de fidelidade comercial, por exemplo).

3. Como prevenir abusos contratuais

Para evitar problemas, o produtor rural deve:

  • Ler o contrato com atenção, inclusive as cláusulas em letras menores ou em anexos;
  • Exigir cópia prévia do contrato para análise;
  • Questionar cláusulas que não compreender;
  • Recusar a assinatura em caso de cláusulas abusivas;
  • Buscar sempre a presença de um advogado agrarista para análise prévia do instrumento contratual.

4. Qual o papel do advogado na contratação de crédito?

O advogado especializado em direito agrário atua na:

  • Análise e revisão prévia do contrato;
  • Negociação com a instituição financeira ou trading para exclusão de cláusulas abusivas;
  • Definição das garantias mais adequadas e menos onerosas para o produtor;
  • Proposição de ação judicial em caso de cobrança indevida ou inadimplemento contratual;
  • Prevenção de litígios e proteção do patrimônio rural.

5. Como identificar contratos com tradings?

As tradings muitas vezes oferecem crédito por meio de adiantamento sobre a produção futura, como no modelo barter (troca de insumos por colheita). Esses contratos, por não estarem diretamente regulados como operações de crédito rural tradicional, precisam de atenção redobrada, especialmente quanto a:

  • Garantias exigidas;
  • Indexadores de correção;
  • Cláusulas de exclusividade;
  • Penalidades em caso de inadimplemento.

6. Conclusão: informação e cautela valem mais que juros baixos

Contratar crédito rural exige muito mais do que avaliar a taxa de juros. O contrato deve ser equilibrado, transparente e justo, com respaldo legal.

Antes de assinar, busque apoio técnico e jurídico. Um advogado agrarista pode ajudar a preservar seus direitos, proteger sua propriedade e evitar surpresas desagradáveis durante ou após o ciclo produtivo.